A raiz do Axé Music
Como Wesley Rangel e a WR Studios impulsionaram o Axé Music a reinventar o Carnaval da Bahia e encantar o mundo
PorLuzia Santhana
5/22/2025

Wesley Rangel (Foto: Reprodução/Facebook)
O Axé Music completou 40 anos e a Bahia celebrou em grande estilo. Como toda a mídia nacional, reverenciou músicos, compositores e estrelas que brilharam, e muitos que ainda brilham, construindo com riqueza de ritmos e letras um movimento musical que transformou o Carnaval baiano, nossa festa maior.
O Axé misturou tudo e gerou o Fricote, o samba-reggae e tantos outros ritmos na medida certa para cada um de seus intérpretes e bandas, reconhecíveis pelo estilo único que imprimiam a cada canção. Na verdade, tudo o que rolava nos trios elétricos — frevo, marchas, samba duro, ijexá, galopes e até rock — foi incorporado a essa mistura, tendo como base comum uma batida afro‑baiana na percussão, que nos faz bailar de alegria e oferece uma cadência confortável tanto para os ouvidos quanto para a dança.

Mãos marcando o ritmo em instrumento de percussão, essência do suingue que define o Axé (Foto: Adobe Stock)
Mas falar de Axé Music e não mencionar a WR é como esquecer o lugar onde tudo começou.
Nesta celebração dos 40 anos, pouco se falou do principal responsável por esse sucesso: Wesley Rangel e sua WR Studios, o verdadeiro templo da música baiana. Rangel dedicou sua vida — e tudo o que ganhava — ao desenvolvimento e à ascensão desse estilo. Carinhosamente chamado de Ran pelos mais próximos, financiou do próprio bolso a maioria dos discos que se tornaram uma epidemia musical, estourando nas rádios FM seletivas, nas populares, em todo o Brasil e em grande parte do mundo ocidental e oriental. Foi um privilégio ver, de perto, esse movimento crescer e fazer parte dele.
Rangel tinha um olhar, um ouvido e uma sensibilidade impressionantes. Num simples encontro, descobria talentos e logo promovia testes, emprestava seu estúdio e incentivava os mais promissores, oferecendo gravações — muitas vezes sem sequer cobrar depois do sucesso.
Foi na WR, ainda no bairro da Graça, que entrei definitivamente para o mercado publicitário e musical. Numa tarde, assim que cheguei de Londres, onde estudei por quase um ano, levei meu irmão Mingo Santana, compositor, para tratar dos detalhes da gravação de seu primeiro disco. Mal falei, e Rangel já elogiou minha voz. Aos 21 anos, eu já havia feito um show consistente no Teatro Gamboa e estava estagiando como jornalista na TV Aratu, afiliada da Globo. Fui imediatamente conduzida ao estúdio de locução, responsável pelas melhores peças publicitárias do Norte e Nordeste, e, em seguida, ao principal estúdio de discos e jingles, que à época contava com oito canais e acabara de receber uma mesa de 16 canais.

Close em painel de mixagem profissional, com botões e faders prontos para ajustar o áudio (Foto: Adobe Stock)
O maestro Toninho Lacerda tocava teclado ao lado de Carlinhos Marques — baixista, cantor e compositor — e, com outros membros do Ban Ban Bans, trabalhava o dia inteiro na produção de spots de rádio e TV, no preparo das músicas para publicidade e nos discos que nasciam ali. Era uma quantidade e qualidade de trabalho que motivava todo profissional envolvido na grande demanda de materiais para todos os estados, da Bahia até Manaus.
A WR foi, de fato, a melhor escola para nós, profissionais da mídia artística e técnica. Rangel não se cansava de descobrir quem tinha potencial para engrandecer o projeto de tornar a música baiana a mais tocada em rádios, TVs e palcos — ele queria que o Brasil e o mundo conhecessem o suingue, a alegria, a beleza e a poesia do Axé Music. Nascido poético, com temas de amor, história, fé e libertação de preconceitos, o Axé nunca teve conotação pejorativa ou restritiva: era e é uma festa para todas as idades.
Com infinita generosidade, Wesley Rangel descobriu e gravou Luiz Caldas, cujo álbum Magia foi o divisor de águas do destino da música baiana. A partir dali, o mainstream estava consolidado. Assistir e ajudar a crescer esse sucesso foi como viver um sonho: compúnhamos, tocávamos, gravávamos e nunca parávamos de produzir. Milhões de cópias vendidas, centenas de canais de rádio e TV, um público sedento por viver aquele momento mágico.
Foi ali que se selou um pacto com os deuses da música: o Axé Music tornou-se um patrimônio musical. A Bahia é, sem dúvida, o maior celeiro de música do Brasil; poucos lugares no mundo exibem um acervo de talentos tão vasto e consistente.

Close nas fitinhas coloridas do Senhor do Bonfim, símbolo de fé e tradição baianas (Foto: Adobe Stock)
Entrei na WR em outubro de 1981 e, em meio a todo esse movimento, trabalhei oito anos como contratada. Enquanto Rangel viveu, não parei de gravar spots, jingles e discos.
A parte triste dessa história é que, após décadas de dedicação à música baiana, nos anos 70, 80, 90, 2000 e 2010, Wesley Rangel foi derrubado pela saúde e nos deixou órfãos de um guia, um expert, um padrinho e um grande benfeitor.
Este texto busca corrigir uma falha nas homenagens aos 40 anos do Axé Music: sem Wesley Rangel, talvez o Axé sequer tivesse existido. Minha homenagem a esse grande empresário da música baiana vem acompanhada de muita emoção e admiração por todos os ícones que construíram o Axé com suas vozes, instrumentos e estilos.

Surdo do Olodum exibindo o icônico logo (Foto: Adobe Stock)
Obrigado, Luiz Caldas; Vevé Calazans; Chiclete com Banana; Olodum; Sara Jane; Zé Paulo; Asa de Águia; Daniela Mercury; É o Tchan; Armandinho, Dodô e Osmar; Netinho; Ivete Sangalo; Gente Brasileira; Carlinhos Brown; Claudia Leitte; Márcia Short; Margareth Menezes; Gilmelândia; Timbalada; Cheiro de Amor; Ricardo Chaves; Gerônimo; Val Macambira; Araketu; As Meninas; Terra Samba; Jamil… e ao técnico Nestor Madrid — para não esquecer as centenas de profissionais que são a alma desse movimento.
Muitos nomes que fizeram tanto sucesso e seguem em carreiras sólidas até hoje, mas não podemos esquecer: foi Wesley Rangel quem construiu o Axé Music.
A matéria original completa está no canal YouTube Programa Nomes.
Artigos Populares

Onde encontrar inspirações de feminilidade?

Nomofobia: o medo irracional de ficar sem celular e o impacto na vida escolar

ChatGPT, me ajuda? 5 truques da IA que toda mulher precisa saber

Descubra histórias inspiradoras de mulheres que mudaram o mundo

O papel da mulher na família: Educação e transmissão de valores tradicionais sob a perspectiva conservadora