Comportamento

Mulheres, escolhas e a conta que chega com o tempo

Entre a hipersexualização e o empoderamento, o que queremos ser — e o que estamos dispostas a enfrentar?

Por
Ivone Sousa

4/29/2025

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Reflexão sobre identidade e imagem: o olhar feminino diante das escolhas que moldam quem somos (Foto: Adobe Stock)

O que nós, mulheres, queremos?

Ser o que quisermos é um fato, mas estamos dispostas a pagar o preço por nossas escolhas? A hipersexualização da mulher é rentável, sem dúvidas, mas os frutos disso são tão doces a longo prazo?

Pense em Pamela Anderson. Há algum tempo, ela surgiu sem maquiagem, quase irreconhecível. O motivo? Nobre: sua maquiadora e amiga de longa data faleceu após uma batalha contra o câncer. Mas a verdade é que a decisão de abandonar a maquiagem ia muito além disso. Pamela queria se libertar da imagem hipersexualizada que marcou sua carreira nos anos 90. Aquela famosa corridinha na praia, com seus volumosos seios balançando no maiô vermelho de Baywatch: S.O.S Malibu, pode ter sido um ícone pop, mas também uma prisão.

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Pamela Anderson abre mão da maquiagem como gesto simbólico de libertação da imagem que a consagrou nos anos 1990 (Foto esquerda: people.com / Foto direita: @pamelaanderson)

E ela não está sozinha. É quase unânime o arrependimento das sex symbols dos anos 90 e 2000. Joana Prado, a Feiticeira, e Suzana Alves, a Tiazinha, abandonaram completamente a imagem hipersexualizada que as projetou para a fama. Muitas mulheres que, no auge de seus 18 ou 20 anos, posaram para Playboy ou Sexy hoje repensam essa exposição. E faz sentido: nos anos 90, estar de biquíni num programa de auditório aos domingos e encarar a icônica banheira do Gugu era um passaporte para a fama. Hoje, entendemos que era uma fama momentânea, mas... a que custo?

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Joana Prado, a eterna Feiticeira, revisita sua trajetória e opta por uma imagem desvinculada da hipersexualização que marcou sua fama nos anos 1990 (Foto esquerda: Reprodução / Foto direita: @joanapradob)

Costumo brincar que a classificação indicativa dos programas dos anos 90 era mais cega que Stevie Wonder. Mas se engana quem pensa que esse fenômeno ficou no passado. Hoje, com a internet, a busca por engajamento e monetização leva muita gente a se expor de forma semelhante. Vários anônimos se tornam influenciadores em questão de minutos (de preferência, a partir de um minuto, para o TikTok monetizar).

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Suzana Alves, a icônica Tiazinha, também escolheu trilhar um novo caminho, distante da exposição que marcou sua juventude (Foto esquerda: Reprodução / Foto direita: @suzanaalvesoficial)

E os resultados nem sempre são bons. Uma das tiktokers mais seguidas da atualidade, Nathália Valente, com 1,1 bilhão de visualizações, percebeu que a exposição exagerada não lhe traria retorno. No início, seus conteúdos eram vazios, repletos de poses forçadas para realçar o corpo escultural e ASMR com um tom sexualizado. Ganhava milhões de comentários de homens sedentos e alertas de mulheres sobre o tipo de conteúdo que estava promovendo. Mas o resultado foi claro: nenhuma marca queria se associar a isso, e ela precisou se reinventar para conseguir uma simples publicidade. E sei que não foi apenas o bolso que pesou. Hoje, ela não tem mais 18 anos e entendeu que aquela não era a imagem que queria passar.

Então, sim, nós mulheres conquistamos espaço, sem dúvidas. Mas alguns espaços valem mesmo a pena ocupar? Podemos ser quem quisermos, e isso é fabuloso. O livre-arbítrio é uma benção, mas toda escolha tem um preço. Cabe a nós decidir se estamos dispostas a pagá-lo.

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