Páscoa Portugal x Páscoa Brasil
Com raízes cristãs em comum, os dois países celebram a Páscoa de formas distintas — entre procissões, folares, ovos de chocolate e a simbólica Malhação do Judas
PorTânia Rabêllo - Institutum Véritas
4/30/2025

Muito além do chocolate: a Páscoa é feita de símbolos, histórias e significados que variam de país para país (Foto: Adobe Stock)
Para os chocólatras, como eu, a Páscoa é a comemoração mais esperada do ano. Mas, em Portugal, talvez não tenha o mesmo sabor.
Embora ambos os países tenham raízes cristãs, as tradições locais apresentam algumas diferenças. Portugal é mais tradicional; o Brasil, mais comercial.
Em Portugal, vemos procissões solenes pelas ruas. O domingo de Páscoa é marcado pela missa. No Brasil, embora haja celebrações religiosas, o apelo comercial é mais evidente.

São Brás de Alportel, Portugal – abril de 2015: tradicional procissão religiosa da Festa das Tochas Floridas, realizada na vila de São Brás de Alportel (Foto: Adobe Stock)
Na gastronomia portuguesa, encontramos o folar (um pão com ovo cozido no topo, com casca inclusive!), cabrito ou cordeiro assado, pão de ló e amêndoas glaçadas. Há um grande respeito pelo jejum da Quaresma. Já no Brasil, o foco está nos ovos de chocolate.

Folar de Páscoa: pão tradicional português decorado com ovos cozidos, símbolo de partilha e renovação nas celebrações pascais (Foto: Adobe Stock)
Em Portugal, um grupo liderado por um padre visita as casas para benzê-las e costuma ser agraciado com amêndoas ou dinheiro. No Brasil, o coelho e os ovos de chocolate são os protagonistas.
A Páscoa portuguesa acontece em clima mais fresco, com pratos quentes e festejos ao ar livre. A brasileira, em clima quente, destaca-se pelo alto consumo de chocolates.

No Brasil, o chocolate é protagonista: ovos recheados, como este com brigadeiros, simbolizam o lado mais comercial e criativo da Páscoa brasileira (Foto: Adobe Stock)
Mas por que amêndoas? As amêndoas simbolizam renovação e ressurreição. A casca dura que protege o fruto representa o túmulo de Jesus, que se abre para revelar a vida. As amêndoas confeitadas tornaram-se um presente tradicional — e a variedade é grande. Há amêndoas glaçadas em açúcar de uma só cor ou coloridas, cobertas com chocolate branco, ao leite ou amargo, e até decoradas com frutos secos e frutas como coco e framboesa.
Dentre todas, a minha preferida é a glaçada em chocolate branco e framboesa. Embora o chocolate branco não esteja entre os meus favoritos, a combinação com o azedinho da framboesa ativa o paladar além das expectativas do sabor.
Os ovos de chocolate ficam, em geral, limitados a duas grandes marcas. Em Portugal, o chocolate é um coadjuvante: a tradição católica ainda é protagonista.
A “Queima do Judas” — ou “Malhação do Judas” — é um momento festivo e catártico. No sábado de Aleluia, um boneco de palha, madeira ou trapos é pendurado em praças e queimado, representando a punição pela traição e o fim do período de penitência.
No Brasil, esse ritual ainda pode ser visto, mas com conotação mais satírica e crítica social. Em Portugal, o tom permanece religioso.

A Queima do Judas em Vila do Conde, Portugal (Foto: Margarida Ribeiro)
O fogo é um elemento transformador. Reforça a ideia de deixar o passado para trás. Infelizmente, o que está sendo deixado para trás, aos poucos, é a nossa história. Temo que, num futuro próximo, a Páscoa se resuma apenas a chocolates.
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